Olá amigos...

Sei muito bem que esse assunto de "proteger o meio ambiente" incomoda muita gente.
Todos estão conscientes de que a ação do homem contra a natureza tem sido a causa principal de tantos desequilíbrios naturais, porém muitos não querem discutir sobre o assunto, nem tentam mudar as atitudes, enquanto outros "fingem" não enxergar, preferem deixar pra resolver "outro dia"... enfim...
Mas , às voltas com a crise climática e cheios de energia para mudar esse cenário, não é raro os ambientalistas serem apelidados de eco-chatos.
Há pouco tempo atrás li um artigo sobre um texto de uma bióloga (não lembro agora o nome) em resposta àqueles que se incomodam com os ativistas ambientais. E como ativista ambiental vejo aqui um momento oportuno para enfatizar o mesmo texto, fazendo das palavras dela, as minhas:
"-Sou uma “Eco-chata”, termo que considero pejorativo e desrespeitoso com quem realmente se preocupa com, nem digo mais o futuro do mundo, mas sim a atual crise socioambiental que vivemos.
As mudanças climáticas são conseqüência do nosso atual modelo de produção, desenvolvimento e consumo, que é egoísta, desperdiçando muito, economizando pouco, valorizando o “novo” e a “última geração”, é imediatista e cobrando atitudes das pessoas erradas.
Os “Eco-chatos” estão por aí, lutando por todo o mundo, porque as mudanças climáticas não são exclusividade do Brasil. Os “Eco-chatos” estão lutando por um mundo melhor, mais justo, que valorize a natureza, a simplicidade e o ser humano.
Hoje estou na internete; amanhã talvez estarei numa escola dando palestras para os jovens que, no futuro, estarão fazendo escolhas; depois estarei nas ruas mobilizando a população a cobrar dos políticos atitudes mais corretas, que valorizem a vida, a igualdade e justiça socioambiental; em seguida estarei numa praia num dia de muito sol trabalhando voluntariamente tentando conscientizar as pessoas a respeitar o planeta; e no meio de tudo isso estarei contribuindo para o bem do planeta, que, além de me trazer enriquecimento pessoal, espero também que possa contribuir para uma real mudança na sociedade.
Então como você pode ver, estamos por aí, atolados de coisas para fazer, por que são muitas e somos poucos nessa luta.
Mas espero que em breve sejamos maiores em números e assim possamos ser, finalmente, ouvidos e seguidos. E, quem sabe, reverter o quadro atual.
A luta é grande e árdua!
Sinta-se você bem vindo a lutar com a gente também!"

sábado, 28 de setembro de 2013

A natureza está aí para ser sentida

A natureza está aí para ser sentida

Com brincadeiras, qualquer espaço natural e até mesmo a sala de aula são úteis para unir teoria e prática nas aulas de educação ambiental


Corujas caçam mariposas: a dinâmica do professor Cornell (de boné) colocou os adultos para correr
Há algumas semanas, enquanto entidades governamentais do mundo inteiro reuniam-se em Nairóbi, no Quênia (África), para uma conferência internacional sobre a mudança climática no planeta, o educador naturalista norte-americano Joseph Cornell preocupava-se em conscientizar cerca de 60 pessoas - professores, profissionais de empresas privadas e curiosos - sobre a importância da natureza, num espaço verde do Sesc Interlagos, em São Paulo. Há mais de 20 anos na área de educação ambiental, Cornell partilha com outros educadores uma metodologia própria de ensino, passando conceitos e noções da natureza por meio de dinâmicas de grupo, brincadeiras e observação. Pode parecer um trabalho de formiguinha frente a um encontro global, mas suas aulas são promovidas por organizações não-governamentais em escolas de nove países e seu livro "Vivências com a Natureza", que oferece mais de 50 atividades para professores, foi traduzido em 19 idiomas.

A trajetória de Cornell mostra que um educador, no seu trabalho diário e aparentemente pequeno, pode fazer muita diferença para reverter o crítico quadro ambiental do nosso planeta.
A preocupação do naturalista é sensibilizar quem vive num ritmo de vida agitado e, por isso, acaba não percebendo o impacto que a natureza tem em sua vida.
Embora faça os exercícios com adultos, o alvo preferido de Cornell são as crianças, que estão mais predispostas a desenvolver o respeito pelo meio ambiente.

"Dos 6 aos 12 anos de idade, elas estão na fase da sensação", diz. Mas a tarefa de criar práticas que atraíssem os pequenos pelo conteúdo não foi simples. As atividades deveriam, além de estimular a criançada, transmitir informações sobre as características de animais e plantas, clima e ecossistema. Quando fez a primeira caminhada na natureza com alunos de uma escola nos Estados Unidos, Cornell sentiu-se conduzido pelo grupo que ele deveria conduzir.
O que era para ser um passeio para despertar a consciência ecológica virou uma caminhada que cruzava a floresta. Faltavam dinâmicas, atividades... "Fiquei atrás deles durante quase um quilômetro, até que voltamos. Eles lancharam e retornaram à sala de aula. Percebi que meu ideal não havia sido alcançado", lembrou Cornell, aos risos.

O educador encontrou, então, um outro meio de envolver as turmas: dividindo o passeio em momentos divertidos e introspectivos. Com isso, percebeu uma concentração maior dos alunos. "Uma aprendizagem seqüencial, que começa com atividades dinâmicas e parte para as mais reflexivas, muda o comportamento dos alunos aos poucos e os deixa mais calmos", explicou.
Para o naturalista, isso é importante porque nem todos estão preparados para uma introspecção logo no início. Uma das dicas do educador é perceber e respeitar o ritmo do grupo para que não se disperse nos jogos. Isso vale para os adultos também!

Está na hora de brincar! No Sesc Interlagos, Cornell levou os participantes a uma grande área com gramado e propôs que formassem grupos de três a quatro pessoas, distribuídos em torno de um círculo formado por uma corda.
Dentro do círculo haviam 30 cartas com características de cinco animais que habitam a Mata Atlântica. Durante 10 minutos, as equipes pegaram as cartas do meio da roda e voltaram ao respectivo lugar para anotar as informações até adivinharem que bichos estavam descritos ali. "É uma atividade boa para o conhecimento dos animais. Também ajuda o professor a trabalhar a concentração e o respeito às regras por parte dos pequenos e pode ser feita dentro da sala de aula em dias chuvosos", disse o naturalista.
Na hora de encerrar as adivinhações, o professor tocou um apito (que tinha o som de um bicho).
Ao fim da atividade, mostrou as fotos dos animais descritos nas cartas e cada grupo que acertou deu um passo em direção ao centro, aproximando os alunos a cada rodada. Para crianças da Educação Infantil, as cartas podem ter, em vez de texto, o desenho das pegadas ou de partes de animais conhecidos.

Um outra brincadeira, chamada "Predador e Presa" (que está no livro de Cornell), é divertida até para adultos - os da turma que ali estavam durante a atividade com Cornell que o digam. Com o grupo ainda em círculo, o educador chamou por cinco voluntários. Um deles representaria a onça (o predador) e os outros, bichos que a onça comeria para sobreviver. Todos foram vendados e, para que pudessem se reconhecer, cada um teve um sino com um tilintar específico amarrado numa das pernas. A roda com os outros alunos serviria como a delimitação do espaço onde aconteceria a caçada. Por meio do som mais agudo (emitido pelos sinos menores), a aluna-onça movia-se em busca das presas, que fugiam ao ouvir o som mais grave do sino maior (preso em sua perna).
O aluno que representava o peixe foi um dos mais velozes. Ao perceber o som da onça, ele sacudia a perna que tinha o sino de um lado e corria para o outro, enganando-a. "O jogo permite perceber as diferentes estratégias de fuga que os animais têm. Enquanto uns correm, outros ficam paradinhos num canto", observa o educador. Na medida em que a onça pegava suas presas, Cornell pedia para que os alunos do círculo dessem um passo à frente, diminuindo o espaço da caçada. Pobres presas! Se as crianças pequenas se incomodarem com a venda nos olhos, apenas o predador pode ficar vendado, porém sem sino.

Na última brincadeira feita em grupo, chamada "Coruja e Mariposa", Cornell dividiu os alunos em duas equipes: aqueles que haviam nascido em São Paulo e aqueles que vieram de fora da capital. Separados por uma corda, frente a frente, os grupos representavam a coruja e a mariposa, respectivamente. Quando o educador dizia uma frase verdadeira, as corujas deveriam ultrapassar a corda para pegar as mariposas e juntá-las a sua equipe. Se a sentença fosse falsa, era a vez de as mariposas irem à caça. Atenção! Silêncio... "O habitat é o lugar em que as plantas e os animais vivem", disse Cornell. Aos gritos e risos, lá foram as corujas "voando" atrás das mariposas. A risada foi geral. "Além de servir para revisar os assuntos dados em sala de aula, essa atividade eleva a energia dos alunos se estiverem amuados", diz Cornell.

É hora de sentir... 
Depois de tanto agito, o educador Cornell conduziu o grupo até a floresta para que todos ouvissem os sons da natureza. "Como as pessoas costumam ter uma vida mais ativa, é preciso fazer uma transição para essa atividade", disse, justificando a agitação das brincadeiras anteriores. "Isso também ajuda as crianças a se tornarem mais sensíveis." No meio de um pedaço de cartolina, Cornell desenhou um "x". "Este sou eu", explicou. Em seguida, colocou pontos próximos ao "x". "Estes são os pontos de onde vêm os sons que estou ouvindo". Então, os alunos se distribuíram pelo espaço, ao redor de um lago, e fizeram seu próprio mapa, indicando o som de passarinhos, da copa das árvores, da bica na beira do lago e até dos aviões que ali sobrevoavam. Depois disso, em duplas, os alunos trocaram os mapas e conversaram sobre o que mais chamou sua atenção. "Se alguém quiser, pode compartilhar com o grupo algum som que fazia tempo que não ouvia", sugeriu Cornell. "Trabalho num lugar tão barulhento que havia esquecido dos sons das folhas das árvores agitadas pelo vento", disse um dos participantes. Essa atividade pode ser feita com crianças de três a quatro anos, desde que acompanhadas pelos pais ou professores para que não se percam em áreas abertas ou se machuquem. A partir dos 6 anos, elas já podem se distribuir, mas perto do campo de visão de um adulto responsável.

Depois de uma breve caminhada de cinco minutos, o grupo concentrou-se no meio de árvores altas e inúmeras plantas. Ali, cada um recebeu um questionário. As perguntas (De onde você veio? O que você faz todo dia? Você sempre foi deste tamanho?) poderiam ser feitas a um animal, uma planta ou até a uma rocha, como se fosse uma entrevista. "Como os adultos não costumam ter essa interação com a natureza, é interessante apresentar a atividade de uma forma suave e instigante", disse Cornell, que pediu aos alunos que pensassem sobre o que cada um desses elementos teria para contar. A atividade, para muitos adultos inusitada e, para as crianças, uma grande brincadeira, leva a ver o que nos cerca de outra maneira. Para o educador, os pequenos nem precisam de questionário. "Eles simplesmente perguntam", disse. Quem sabe a espécie entrevistada possa virar o personagem de uma redação? Sensibilizações como essas não só dão um sabor todo especial para o aprendizado das Ciências, como podem ser adaptadas a outros assuntos e, acima de tudo, permitem que as crianças identifiquem seu próprio papel no meio ambiente. Com aulas assim, você vai adorar que a sua turma queira sair correndo da sala de aula, não?

A beleza de uma árvore que não se vê
Ao subir uma pequena ladeira, chegamos a um espaço arborizado e dividimos o grupo em duplas. Minha companheira, educadora que tinha vindo de Piracicaba para conhecer as práticas de Cornell, vendou meus olhos e me levou a uma árvore que considerou interessante. Ao tocá-la, senti que tinha muitos arbustos ao redor. Mergulhei nos galhos e nas folhas em busca do caule, para poder me localizar - por isso, é preciso cuidar para não levar a pessoa vendada a uma planta com espinhos. Levei um susto com uma teia de aranha. Senti até um certo nojo (tenho medo de aranhas!), mas pedi para que minha companheira observasse se o inseto andava por ali. Ela disse que não, fui em frente. Cheguei ao caule, apalpei-o, peguei num galho mais forte, segui por ele com as mãos. Era muito comprido. Depois disso, minha ajudante me afastou dali e, sem as vendas, tentei descobrir em que árvore havia tocado. Não foi muito fácil... Mas consegui. "Fechar os olhos faz com que os outros sentidos sejam enriquecidos", disse Cornell. Verdade, só olhando eu não teria sentido o cheiro e a textura da árvore. A caminhada na natureza fez com que eu lembrasse da minha infância, de como eu subia sem receio pelas ameixeiras, enfiava-me nas folhas das pitangueiras e me dependurava pelos cipós de uma seringueira na casa da minha vizinha. Não havia aranha que me tirasse esse prazer. Quando criança, aprendemos, naturalmente, a conviver com a natureza. Mas depois esquecemos o quanto fazemos parte dela.